Novas linhas de crédito são boas notícias para jovens agricultores darem o salto global

Aos jovens agricultores caberá saltar as últimas barreiras para aproveitar o maior mercado do mundo (7,8 mil milhões de consumidores) e contornar a falta de escala portuguesa com a vantagem do ecossistema e do talento. Novas linhas de crédito, agora anunciadas, vão ajudar a rejuvenescer um setor muito envelhecido, com média de idades de 64/65 anos. Estas as ideias centrais da 5.ª e última Conversa Solta desta série.

Entre os melhores do mundo em várias fileiras do setor agrícola e florestal (azeite, arroz e cortiça, por exemplo), Portugal encontra-se num impasse de renovação geracional na agricultura, em que a média de idades da população é de 64/65 anos. Os jovens agricultores estão a assumir o controlo de alguns dos mais entusiasmantes projetos nacionais (três prémios europeus em cinco edições), mas enfrentam um problema de escala do país e barreiras de acesso ao crédito, à terra e aos mercados.

Neste debate, foram anunciadas mais duas linhas de financiamento, pelo secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural e pelo Santander. “O setor está evoluído, está moderno, tem novas tecnologias, que aproveita da melhor maneira possível. Isto faz que aquilo que se chama de agricultura intensiva tenha de ser desmistificado. O que é que nós temos? Temos, essencialmente, uma agricultura moderna e tecnológica. A maior eficiência no aproveitamento de recursos, uma melhor produtividade e uma melhor qualidade e segurança dos nossos alimentos”, enquadrou Nuno Russo, secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, arrumando com uma polémica que tem cercado as discussões no agroalimentar. O governante falava esta semana na Conversa Solta dedicada aos jovens agricultores, última categoria dos Prémios Notáveis Agro Santander, uma parceria entre o banco e o Global Media Group, com a entrega de prémios prevista para setembro.

Da mesma forma direta, Nuno Russo elencou os principais obstáculos para que a desejada renovação geracional se materialize. “É fundamental que a banca nos ajude, como nos últimos anos, porque uma das principais dificuldades dos jovens para entrarem no setor é também o acesso ao crédito.

O acesso ao crédito, o acesso à terra e o acesso aos mercados. E falando agora na questão dos mercados, a organização é fundamental. A nossa percentagem de agricultores associados em agrupamentos de produtores ou associações de produtores ainda é muito limitada, ainda é muito baixa comparada com os outros países da União Europeia”, explicou o governante.

Na abertura desta Conversa Solta disponibilizada online nos sites e redes sociais do Global Media Group, o administrador Afonso Camões tinha lançado os dados da base da discussão: “Os nossos agricultores estão entre os mais idosos da Europa, com uma média de idades que ronda os 64 anos. Idosos, portanto, e cada vez menos.

Porque nunca tão poucos portugueses se ocuparam das áreas tradicionais como a agricultura e a floresta. Em poucos anos, perdemos quase metade da força de trabalho. Eram mais de 600 mil em 2007; hoje, não chegam aos 350 mil. E porque não há agricultura sem terra, registo que dois terços do território de Portugal acolhem menos de um um quinto da população.”

Para se ficar com um quadro melhor definido, António Guerreiro de Brito, presidente do Instituto Superior de Agronomia, juntou mais dados concretos. “Os custos associados aos setores agrícola, alimentar e florestal suportam, em conjunto, a maior indústria do nosso planeta. Tem por base 7,8 mil milhões de consumidores. Dependendo dos setores em que se inserem, pode atingir até 25% do Produto Global Bruto. Estimamos que possa valer entre 3 e 8 mil biliões de euros”, anunciou o também presidente do júri que escolheu os dez nomeados para esta categoria.

“Em Portugal, o setor agrário também está na linha da frente. O agroalimentar tem um volume de negócios de entre 15 e 20 mil milhões de euros. Estes valores variam consoante as estatísticas que são contabilizadas”, apontou sobre o setor a nível nacional. E deixou algumas ‘medalhas’ de Portugal: “Somos o segundo produtor mundial de azeite. O nono exportador de vinho. O terceiro em tomate processado. Somos o quarto produtor de arroz e o sétimo produtor de pera da Europa. E na floresta, somos o primeiro na cortiça, o primeiro em papel de qualidade. E o terceiro na Europa em termos de peso da floresta no PIB. Temos ainda uma pecuária com uma denominação de origem que é reconhecida por todos. E também alguns dos melhores chefes do mundo e nas ciências gastronómicas. Em Portugal, temos aquilo que se designa por “from farm to fork.”

“Para mim, a união faz a força”, acrescentou Henrique Silvestre Ferreira, vencedor do Prémio ‘Projeto Mais Inovador da Europa’, promovido pelo Parlamento Europeu, em 2016 (em 2012, havia ganho José Carvalho, de Vila Nova de Famalicão, com o projeto, na altura já em funcionamento, de morangos em estufa em sistema de aeroponia), sendo que Manuel Grave, engenheiro agrónomo que desenvolveu um projeto de amendoal moderno, em Portel, ganhou mesmo o prémio de melhor jovem agricultor europeu.

“Esta união tem de ser mais pensada e tem de haver uma maior ligação entre os jovens agricultores. Temos de melhorar ainda mais. Se nos unirmos, não só seremos mais fortes nos problemas, mas também a pensar no futuro”, concluiu Henrique Silvestre Ferreira.