O cenário é positivo e animador, mas falta a escala ao mercado nacional e são precisos estímulos políticos, económicos e diplomáticos. No setor agroalimentar, as exportações há uma década que crescem, crescem, crescem. Entre 2007 e 2019, agroalimentar e bebidas exportaram mais 59% (de três mil milhões de euros para 5,1 mil milhões). Mas falta criar uma cadeia de valor que diferencie os diferenciados produtos nacionais. Ou seja, que os produtos sejam assimilados como marcas próprias, e não apenas “feito em Portugal” e consigam chegar a patamares superiores, acessíveis pela conjugação de eficiência e promoção diferenciada.
Basicamente, sem marcas e sem acesso responsável ao crédito, não é possível competir no campeonato das exportações com os nossos principais rivais neste caminho de sustentabilidade, afirmação e geração de riqueza a distribuir pelos empresários, produtores e colaboradores do setor agroalimentar e do país, em geral. Espanha, França, Itália e Reino Unido têm vantagem na dimensão e avanço na diplomacia financeira e promoção da oferta registada.
Miguel Belo de Carvalho deu o mote para o caminho de crescimento das exportações no setor. “Tem de ter coragem. É um mercado complexo,cheio de ambiguidades e complexidades. Temos produtos únicos, somos muito bons a fazer determinado tipo de fileiras. Mas temos um mercado pequeno e se queremos aumentar o atual impacto temos de ir além-fronteiras”, lançou o administrador do Santander na abertura da sessão do debate, realizado nesta semana no Work Café Santander, em Lisboa, centrado na quarta das cinco categorias dos Prémios Notáveis Agro Santander 2020 (Exportações), para os quais estão nomeadas 21 empresas. Já se discutiram a Inovação Tecnológica, o Empreendedorismo, a Sustentabilidade e seguir-se-á em março a última Conversa Solta, em simultâneo com a gala de entrega dos galardões.
“Sem marcas e sem acesso consciente ao crédito, não é possível competir lá fora. Não é a marca Portugal, mas a marca A, B, C. Espanha fez isso e ganhou muito”, alertou Jorge Tomás Henriques. O presidente da FIPA – Federação das Indústrias Portuguesas Agroalimentares, um dos quatro oradores, tinha dado as boas notícias logo de entrada, com os números de sucesso nas exportações. E avisou: “Temos de deixar para trás o Portugal dos pequeninos.”
“Estamos todos juntos”, assegurou Pedro Correia, diretor de Negócio Internacional do Santander. “Tenho olhado com muita atenção para este negócio. Não é razoável olharmos para alguns países europeus que conseguem colocar produtos fora da Europa e nós não conseguimos. Sublinho a ajuda que as informações dadas por este governo e o anterior tiveram no levantamento de barreiras para entrar, e é isso que queremos. A responsabilidade do Estado é a de criar capacidade de reputação internacional. Sem isso, o banco não pode fazer o seu papel, os empresários também não”, contextualizou.
“O agricultor era visto como português de segunda, mas fez o seu percurso e modernizou-se”, lançou Domingos Santos, presidente do conselho de administração da Frutoeste, CRL. “Estamos a crescer a dois dígitos ao ano, somos o segundo maior exportador europeu de tomate e a polpa de tomate gera 1,6 mil milhões de euros em exportações. Não digo que é preciso mais crédito, são necessários critérios mais adequados ao setor”, diz. “Portugal é visto como um país de qualidade. Principalmente, na sustentabilidade e segurança alimentar.” É imperioso criar marcas fortes empresariais para que os produtos se massifiquem e vejam reconhecidos a qualidade e segurança em valor de marca.
Uma das fileiras mais relevantes no agroalimentar é o vinho. “Mudou de forma dramática. As exportações eram maioritariamente de vinho do Porto. Nos 500 a 800 milhões de euros exportados nos últimos dez a 15 anos, os vinhos triplicaram a sua quota porque houve uma profissionalização, com enólogos, academia e ciência. Passámos a ser credíveis. Somos a 10.ª potência exportadora de vinhos a nível mundial, e estamos a ganhar quota”, explicou Martim Guedes, administrador do Grupo Aveleda.
“A nossa empresa já pode ir só por si, mas fizemos parte de grupos de organizações como o G7 e os Douro Boys. E ajuda muito atuar em bloco e com um portfólio mais completo. Ajuda a dar escala”, ilustrou Martim Guedes. O representante da Aveleda neste debate concluiu com um exemplo de como uma marca forte e a antecipação das necessidades dos clientes são determinantes. “Andamos a gastar rios de tinta com a China. Esse mercado gera 70 milhões de euros e 1,4% das exportações. Temos de implantar produtos que sejam necessários e que não sejam objeto de cópia. Como? Com novos acionistas e um setor financeiro que ajude a construir este edifício”, rematou Martim Guedes.