Um dos projetos mais acarinhados por Ana Costa Freitas é a formação de um centro único de investigação em ambiente e agricultura no Mediterrâneo, que junta as quatro unidades de investigação do Alentejo e do Algarve. “A nova unidade de I&D foi avaliada como “excelente” pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT)”, sublinha, com orgulho. A primeira edição das “Jornadas MED – Mediterranean Institute for Agriculture, Environment and Development” aconteceu nesta semana, na universidade. Para Ana Costa Freitas, o prémio de que é jurada, na categoria de Sustentabilidade, faz todo o sentido por reconhecer o mérito de empreendedores e empresas que têm contribuído para o renascimento da agricultura no nosso país.
Como é que a Universidade de Évora contribui para o desenvolvimento agrícola da região do Alentejo?
Desde a sua fundação, em 1973, a universidade tem-se afirmado na área agrícola com intervenção direta na vida dos agricultores. O primeiro reitor da universidade era engenheiro agrónomo e esteve sempre muito orientado para a não destruição do solo, algo fundamental para o crescimento das plantas.
Neste momento, e relativamente ao ano letivo de 2018-19, estão inscritos 138 alunos em Agronomia e 95 alunos em Ciência e Tecnologia Animal. Além das licenciaturas e de outros cursos nesta área, temos um grande centro de investigação onde trabalham cerca de 180 pessoas e que foi avaliado como excelente pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT); é uma grande unidade que engloba diversas áreas e resulta da fusão das antigas unidades.
Qual é a origem deste centro?
Resulta de uma candidatura à FCT para a criação de um centro único de investigação em ambiente e agricultura no Mediterrâneo, que combina quatro centros de investigação do Alentejo e do Algarve: Instituto de Ciências Agrárias e Ambientais Mediterrânicas (ICAAM), Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo (Cebal Beja), Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Cibio da Universidade de Évora), Centro para os Recursos Biológicos e Alimentos Mediterrânicos (MeditBio da Universidade do Algarve).
O MED tem como missão a promoção da sustentabilidade dos ecossistemas e da
segurança alimentar para a coesão territorial e o bem-estar humano. Aqui faz-se investigação fundamental e aplicada nas áreas de agricultura, ambiente e desenvolvimento.
Que áreas produtivas a universidade mais privilegia?
A investigação é aplicada ao olival e ao azeite português, à viticultura e à enologia, à horticultura, à produção e saúde animal, ao montado, à agricultura irrigada, à biodiversidade, à dinâmica rural e à governança.
Qual o papel do centro de I&D para o desenvolvimento da agricultura mediterrânica?
O MED tem vários objetivos: melhorar a eficiência dos fatores de produção para uma agricultura mais competitiva; melhorar a sustentabilidade dos sistemas alimentares; assegurar a conservação da biodiversidade e a multifuncionalidade da paisagem; promover a capacidade organizacional, aumento da competitividade, e coesão social e territorial; e promover a resiliência e adaptação às alterações climáticas.
O MED tem como missão a promoção da sustentabilidade dos ecossistemas e da segurança alimentar para a coesão territorial e o bem-estar humano.
A investigação já está a contribuir para a região?
A investigação contribui para a preservação da natureza, para a qualidade da paisagem e para a vitalidade rural. Procuramos a excelência na investigação, produzindo conhecimento científico e tecnológico sólido, mas também soluções para a sustentabilidade dos agroecossistemas, ambiente e territórios.
A interação com os stakeholders dos setores público e privado bem como o aumento do número de projetos de vários atores são fundamentais para identificar as necessidades de investigação e disseminar os resultados.
Quais os principais projetos em que a universidade está envolvida?
Projetos ligados à rega da vinha, ao montado, à essência dos recursos e à conservação do solo – a necessidade de o não esgotar. O nosso território está a ser desertificado, quer no clima quer em pessoas. É preciso dar valor ao território, conferindo parcelas de terreno aos agricultores e assim garantir uma produção agrícola economicamente viável numa espécie de consórcio entre pessoas.
Toda a evolução que a agricultura no Alentejo tem tido depende do Alqueva e da água disponível. E a este nível tem havido uma mudança significativa. Passámos de uma agricultara de sequeiro para uma agricultura de regadio. Na universidade vemos o ecossistema como um todo, como um modelo integrado. Olhamos para os efeitos do uso da água nas espécies e nas plantas, bem como para o seu impacto no ambiente. Esta tem sido a função da universidade. Os investigadores têm-se preocupado em transmitir este modelo de sustentabilidade.
Como se garante emprego aos recém-licenciados?
Temos um portal de emprego e divulgamos os estágios disponíveis, alguns cursos de mestrado têm estágio obrigatório, e ainda temos oferta de estágios para o período das férias. A minha preocupação é a existência de emprego qualificado na região. A criação do polo do instituto Faurofer Portugal na Universidade de Évora, organismo muito dedicado à agricultura de precisão, vai ajudar a trazer mais emprego qualificado para a região.