Regressado da China, onde foi preparar a abertura da 4.ª delegação, Luís Castro Henriques assume que o objetivo é atrair fábricas e centros de I&D para Portugal, sobretudo na área automóvel. Elogia a aposta na inovação das empresas portuguesas, que, diz, faz duplicar as exportações, que neste ano deverão representar 45% do PIB. As macrotendências de investimento têm acontecido nos serviços ligados às tecnologias, com os casos da Google, da Cisco, da Microsoft, da Bosch, etc., que já representam 70 mil empregos. E há novos países a investir em Portugal, como os EUA e o Japão.
Acaba de chegar de uma missão da AICEP à China. Que objetivos levou e que resultados trouxe?
Fomos fazer um seminário e promover Portugal em Cantão, onde vamos abrir a quarta delegação na China até dezembro. Passei também por Xangai e Pequim para me reunir com algumas empresas, umas já conhecidas, outras novas. Mas este mercado é uma maratona. O caminho é longo.
Que setores ou que vantagens comparativas “vende” Portugal na China?
O que queremos captar na China basicamente são fábricas e centros de I&D. Trata-se de aproveitar este momento de forte investimento chinês de referência em Portugal para passar uma mensagem de conforto aos potenciais investidores. Temos trabalhado muito o setor automóvel, onde temos mais vantagens comparativas, a mobilidade elétrica, tudo o que seja tecnologia de ponta e precisão. Mas também o agroalimentar, porque os chineses procuram nichos de altíssima qualidade, como o dos vinhos e do azeite. Exportamos para lá muita cerveja, algo que é pouco conhecido.
Que retrato faz da aposta na inovação e emI&D nas empresas portuguesas nos últimos anos? Pode medir-se a relação entre inovação, crescimento e exportação?
As empresas portuguesas têm apostado cada vez mais na inovação produtiva e no I&D. Nestes sete anos vemos que há um nexo de causalidade entre inovação e exportação: as empresas que investiram em inovação produtiva exportam duas vezes mais. É um processo fundamental e há uma adesão enorme das empresas. Aliás, os nossos incentivos privilegiam o forte investimento em inovação e em I&D.
Qual o total de incentivos que a AICEP gere?
Em 2018 tivemos um ano recorde, em que contratualizámos mais de 1,2 mil milhões de euros de inovação produtiva. São apoios diretos ao aumento da capacidade produtiva em inovação. Neste ano pensamos igualar essa marca. E estamos com um pipeline de projetos de dois mil milhões de euros.
Há setores dominantes nesse pipeline?
O setor da maquinaria e do automóvel é o dominante. Mas, mesmo no ano passado, houve projetos na área mineira, turismo, aeronáutica e, neste ano, também está a ser muito diversificado.
E em relação a postos de trabalho o balanço é relevante?
Só no ano passado foram mais de quatro mil postos de trabalho criados. É preciso dizer que o investimento na área dos serviços, que não entrou nesta estatística, está com uma dinâmica muito interessante nos últimos três anos. Há dez anos esta área não tinha impacto em Portugal e hoje representa mais de 70 mil postos de trabalho. Estamos a falar de empresas como o BNP Paribas, Google, Cisco, Microsoft, Vestas, centro de I&D da Bosch, etc. Já abrimos mais de 80 centros de serviços e de competência nos últimos cinco anos. É uma macrotendência do investimento muito interessante.
Qual a percentagem de incentivos fiscais concedidos face ao investimento total?
A AICEP tanto atribui incentivos financeiros como fiscais, sendo a taxa de apoio, em média, entre 15% e 25% do investimento. É preciso ver que há incentivos em vários países da Europa, como a Polónia ou a República Checa. Há um sistema concorrencial. E os resultados obtidos são muito superiores aos incentivos.
As empresas portuguesas têm apostado cada vez mais na inovação produtiva e no I&D.
O que está a mudar para facilitar o ambiente de negócios e que apoios oferece a AICEP em concreto?
Tem havido uma simplificação de uma forma geral e até já somos vistos como um país inovador e desburocratizante, embora haja ainda trabalho a fazer. Mas temos dado passos significativos. Além do apoio à atividade comercial fora de Portugal – como a interligação com instituições relevantes locais e o apoio direto dos pontos de rede espalhados pelo mundo –, a Aicep tem a Comissão Permanente de Apoio ao Investidor, que reúne todas as entidades relacionadas com o investimento, e é uma ferramenta muito eficaz.
Como se situa o agroalimentar, quer na perspetiva do interesse de investidores estrangeiros em Portugal quer na dinâmica de internacionalização?
Tem tido uma dinâmica muito interessante, atraindo o interesse de países menos óbvios, como os Estados Unidos. O Alqueva tem sido um foco de grande interesse para investidores, sobretudo espanhóis, mas também de outros países, que apostam no olival, vinha, frutos secos. Alguns produtores californianos percebem que têm aqui condições semelhantes com disponibilidade de água estável e continuam a investir. Ainda agora assinámos um contrato com uma empresa americana e francesa, que faz cenoura-anã em Coruche. E temos cá players muito relevantes, por exemplo, nos frutos vermelhos e no tomate.
Qual o contributo atual do agroalimentar para a economia nacional?
O setor tem contribuído em mais de 6% para o crescimento do PIB nos últimos cinco anos, exporta mais de 6, 5 mil milhões de euros e já representa 10% das exportações. Só o impacto no PIB destas exportações é de cerca de 4%. É responsável por um volume de negócios de mais de 20 mil milhões de euros, repartidos por 135 mil empresas com 300 mil postos de trabalho.
Quais os subsetores que mais se destacam?
Fruta, peixe, azeite, vinho e tomate, por esta ordem de importância.
As exportações já representam 43% do PIB. Quais são as perspetivas para este ano, com os sinais de abrandamento da economia…
As exportações estão a crescer menos, mas continuam a crescer, e até mais do dobro do próprio PIB, pelo que vão aumentar a sua percentagem do PIB. Acredito que chegarão a 45% do PIB.
Que novas tendências nos países de origem de investimento estrangeiro em Portugal?
Os típicos investidores são Alemanha, França e Espanha, por esta ordem. Nos últimos anos temos conseguido diversificar para EUA, Índia e até Japão , que tem feito um investimento relevante nos últimos três anos. Além de outros países europeus, como a Bélgica e a Áustria.